Em nome da Ciência

Recentemente, numa rotineira aula de Biologia Celular em que eu tive o prazer de estar presente, aquando da observação de células de sémen de rato, um singelo pupilo ergueu a sua voz e questionou timidamnte:

-Desculpe senhor professor, esta pergunta se calhar é um bocado parva..., mas como é que recolhem o sémen de rato?

De facto era um pergunta bastante pertinente, pois embora revestida de alguma imbecilidade ela revelava uma profunda curiosidade científica. O imberbe pedagogo, confrontado com tão controversa questão, hesitou, mas respondeu sem demora:

-Bem, de facto existem dois processos. O primeiro consiste em juntar ratinhos com fêmeas grávidas: eles tentam acasalar, mas elas têem um "rolhão vaginal" que impede a entrada do sémen e depois é só recolher. O segundo... ora bem... Quando em situações de grande stress, há um descontrolo do Sistem Nervoso Autónomo, o que faz com que os ratinhos ejaculem.

Acometido por uma súbita avidez de conhecimento, uma sede voraz e insaciável pelos saberes da bela arte da recolha do sémen de ratinhos perguntei, desafiador:

-Mas como é que se stressam o caralho dos ratos??

-Ora bem... Nós normalmente damos-lhes um apertão e abanámo-los um bocado e ... pronto.

O silêncio na sala era simplesmente ensurdecedor. Na mente de todos se projectou a bela imagem de um qualquer indivíduo enfezado envergando uma imaculada bata branca que preencheria os seus dias sacundindo miríades de pequenos roedores, proporcionando-lhes momentos de puro terror, seguidos de um microssegundo de alívio/prazer. Um após outro, erguendo-o, sacudindo-o, e recolhendo - e tudo isto em nome da ciência.

Ó Sócrates, ó Galileu, ó Giordano Bruno: emudeçam aqueles que vos exaltam pois os vossos sacrifícios pela ciência empalidecem perante a penosa tarefa de recolha de sémen de ratinhos!Tu, cientista anónimo, és o verdadeiro mártir da ciência, o genuíno responsável pelos maravilhosos avanços da técnica! Avé, colector de fluido espermático de ratinho, pois todo aquele que desfruta das maravilhas da ciência deve-te vassalagem! JMP