Para mim neste mundo há tão pouco e somente dois tipos de pessoas: aqueles que assumidamente tiram ranhetas do nariz e aqueles que o fazem dissimuladamente, de forma cobarde reveladora do seu carácter débil. Todo o ser humano digno desse nome procede periodicamente à prospecção do belo cimento orgânico. Todos sem excepção, desde Kofi Annan a Anatoli Runga (pescador de lulas Burkina Fasense), passando por todo o parlamento europeu e conselho executivo da escola secundária Carlos Amarante. Todo fazem regularmente.
Mas,... por que ironia divina produzimos nós nestes recantos húmidos esta gosma multicolor e de formas variadas? Do verde lima ao preto carvão, líquidas como saliva ou ressequidas como o solo gretado do Gobi, as catotas são o nosso primeiro brinquedo. Desde catraios que ganhamos o hábito de escarafunchar nas profundezas aparentemente insondáveis das nossas cavidades nasais, para extrair tão precioso minério. Uma vez cá fora, o saramelo tem muitos usos.Há quem não resista a fazer uma bolinha, outros preferem colá-las debaixo da cama, limpar à camisola... - eu prefiro a "projecção aleatória", mais arriscada e recheada de adrenalina.
Na cama, casa de banho ou aguardando num semáforo, quem nunca arrancou uns moncos com os seus dedos nus, como um dos sete anões na sua mina peganhenta? Quem nunca degostou uma ranheta? Todos sabemos que são salgadinhas... Quem nunca sentiu o drama de perder uma ranheta na imensidão cavernosa da narina? Quem nunca se encheu de coragem e disse bem alto: "comigo é no man's left behind...", remexendo freneticamente nos recônditos nasais, obcecado com a ideia de perdê-la para sempre... Quem nunca se questionou como avisar alguém que tem um irreverente macaco balouçando à vista de todos? Quem?
Pois é: não há neste mundo um virgem de narina, não vale a pena disfarçar... JMP
PS: Ontem saquei um tão grande que acho que lhe vou chamar Luís Carlos