Fumar Mata!
De facto mata. Mas um camião em sentido contrário na A3 também, e não leva nenhum autocolante igual na grelha da frente. Percebeu-se agora, depois dos quilómetros e quilómetros de auto-estrada que os fumadores foram calcando nos pulmões, que, epá... mata. Não que antes de anunciarem nos maços não matasse. Mas achámos que era mais giro só revelar a surpresa agora. Antes morriam um bocado à toa, agora morrem com uma explicação da tabaqueira. o que me parece bastante querido. Mas mata, e é bom que assim seja. Até me deixa de certa forma aliviado. Somos muitos, a verdade é essa. E cada um de nós existe muito. Logo, nada faz mais sentido. Nem todos fumam, o que me deixa descansado sobre o paradeiro do mundo. Não há nada mais aborrecido do que morrer de perfeita saúde, durante uma sessão de cardio-fitness. É até, se me permitem, motivo de chacota. Se apanhasse alguém a morrer dessa forma, faria questão de durante o funeral, me fazer munir de um microfone e um amplificador de médio tamanho, e insultar a senhora Augusta que morreu na passadeira do ginásio. É que é parva, a mulher. São pessoas que não têm o minímo sentido de morte. Pessoas estúpidas irritam-me, mas pessoas que nem sequer sabem morrer, dão-me vontade de estrear os sapatos na boca delas, com jeitinho. Morrer num jogging de sábado de manhã está ainda num patamar ridículo, e também constrangedor. Ninguém quer ser encontrado, esticado no circuito de manutenção do Complexo da Rodovia, com um fato de treino novo, ainda com os vincos de estar dobrado há meses, com um phones nos ouvidos (a ouvir provavelmente um qualquer cantor, também ele saudável), e com um coração em coma profundo. Nem a andar de canoa, nem a fazer amor, nem na secção de legumes de um hipermercado. Todos estes panoramas disponíveis para uma morte, são, em ultima análise, absurdos. A morrer, que seja coberto de embalagens de fast-food, com um cigarro meio apagado no canto da boca, com duas linhas de cocaína prontas na mesa de vidro, e a ver os Mini Malucos do Riso. Assim, morre-se com dignidade, na plena certeza que a primeira pessoa que o encontrar dirá: "Eu bem lhe disse que a televisão não estava para brincadeiras".
F.M.